Sexta-feira 16/05

Das aulas de ballet e música para os palcos e sonhos da vida

15 de março de 2018

Por: Alessandra Toniazzo

A agricultora Paula Cristina Wille, 35 anos, insistiu incansavelmente com a direção da escola onde a filha estuda a buscar uma maneira de realizar o sonho da menina: se tornar uma bailarina. A família mora no interior de Horizontina e não tem condições de pagar por aulas de ballet, mas sempre incentivou Riana a acreditar na capacidade que ela tem de dançar. A chance veio com o projeto Semeando Cultura, que oferece aulas gratuitas de ballet para mais de 80 meninas do município. Hoje, quatro anos depois, Riana é a primeira bailarina de ponta do projeto. Ela inspira outras crianças, enche a mãe de orgulho e não contém as lágrimas quando o assunto é oportunidade. “Sempre tive a certeza que é isso que eu quero. O ballet faz meu coração pulsar e o palco é o meu lugar. O projeto Semeando Cultura me disponibiliza isso”, conta Riana com os olhos emocionados e o sorriso tímido.

Estudante da escola pública do bairro Cascata, a menina não mede esforços para chegar pontualmente aos ensaios. As aulas acontecem duas vezes por semana em uma sala da Aciap, no centro da cidade. Riana acorda antes das 7 horas, estuda pela manhã, almoça em uma tia, pega o ônibus, participa da aula e chega em casa depois das 18h. Enquanto espera sua vez para dançar, se alonga e presta atenção em cada instrução da professora Vanessa Dutra. “Achei que era só chegar e dançar. Não sabia dos alongamentos, dos treinamentos, das posições. Senti dor, chorei muitas vezes, mas não desisti. Eu tenho muita vontade de continuar aprendendo”, garante a aluna.

Riana é uma das mais de 150 crianças beneficiadas em Horizontina com as aulas de ballet e música do projeto Semeando Cultura, que acontece na cidade desde 2014. Ele foi aprovado pela Lei Rouanet de incentivo à Cultura e é patrocinado pela Fundação John Deere, com produção da Villa7 Produções Culturais. Tem apoio da Prefeitura Municipal e também da Aciap. O grande objetivo é proporcionar às crianças e jovens o acesso à arte e à cultura como forma de inclusão social. Além de estimular a concentração, a autoestima e o envolvimento com a família e com a comunidade. Riana sabe bem a importância destes valores. “Aprendi a ter coragem de olhar para as pessoas. O projeto me fez perder a vergonha em falar em público, a encarar meus desafios. Quero ser profissional, ensinar outras pessoas a dançar. Entrar em uma escola grande, ir para o mundo. O projeto me ajudou a construir o começo deste sonho”, garante.

Pontualidade, respeito e gratidão

Além do coque feito, da sapatilha limpa e da pontualidade, a professora Vanessa exige que todas as meninas respeitem as colegas e os limites pessoais. “Aqui não estamos em uma competição. Trabalhamos com amor, com união, com gratidão. Elas entendem que só os sentimentos bons são capazes de criar um grupo unido e com destaque”, explica a professora, que tem o incentivo de muitas mães, especialmente de Paula. “Acredito que o projeto e a professora ensinam muito mais que ballet. Em casa, tempo livre significa ensaios e pesquisas para minha filha. Isso é determinação e foco. Como passo cera no chão, para não sujar a sapatilha a Riana usa meias para treinar. Isso eu acho que é reconhecimento da chance que ela está tendo”, conta Paula.

Uma chance de ensino e a transformação para uma carreira

Quando o convite em participar do projeto Semeando Cultura chegou aos ouvidos do Guilherme Boeno Freling, 14 anos, ele não sabia bem o que esperar, mas encarou as aulas de música. Começou timidamente com flauta doce. Com tempo se identificou com as notas, se apaixonou pelo violino e se entregou à música. Hoje Guilherme faz parte da orquestra do Semeando Cultura. Já se apresentou inúmeras vezes e auxilia os novos alunos. Mais que isso: pelo empenho e destaque no projeto, ganhou uma bolsa para estudar em uma escola particular de Horizontina e fazer parte da banda do colégio. “Descobri que a música poderia me dar uma profissão. Insisti neste sonho e fui construindo as possibilidades. Não faltei aos ensaios e estudava sempre nas horas vagas. Como recompensa veio a bolsa de estudos e muitas outras amizades. É uma sensação incrível saber que em quatro anos o projeto transformou minha vida”, conta o aluno.

De acordo com ele, foco é o principal ensinamento que o projeto trouxe. “Estar focado no que estou estudando, ter determinação. O Semeando o Futuro me ajudou a construir um sonho e agora quero seguir uma carreira: quero ser músico”, revela o estudante. Com olhos atentos, de longe o professor Cleverton Ströhe observa as palavras de Guilherme. Ele comanda as aulas de música com outros dois professores:  Francis Vidal Cezar e Anderson Canssi. Juntos, ensinam mais de 80 alunos nas aulas de música em flauta doce, violão, violino, viola, violoncelo, clarinete, saxofone, flauta transversal ou prática de orquestra. “Pela música o aluno esbarra nos seus próprios limites, tenta melhorar, tem disciplina e encara o desafio. Assim como aconteceu com o Guilherme, tentamos mostrar a todos que a música é uma questão de foco que vai daqui para a vida”, explica o professor.   

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