Pé na estrada para conhecer o Chile. O entusiasmo por aventura e a paixão pela motocicleta uniu três amigos mauricienses que se desafiaram a conhecer um dos destinos mais excêntricos da América do Sul, sob duas rodas.
Amigos de longa data, Marcos Richter, Jair Hengen e Renato Juliani compartilharam de um sonho da adolescência quando assistiam filmes que mostravam viajantes pelas Cordilheiras dos Andes e, após quase um ano de pesquisas, decidiram explorar a estrada para conhecer alguns pontos do Chile, que tem geografia de extremos, garantindo uma das viagens mais cenográficas de todo o continente.
Sem GPS, com pouca bagagem, câmera no celular e no capacete para registrar todas as belezas e singularidades da viagem, os três fizeram um roteiro de aventura, percorrendo cidades da Argentina como Posadas, Corrientes, Salta e Resistência. No Chile, conheceram São Pedro do Atacama, Paso Jama, cidade com 4200 metros de altitude, atravessando a Cordilheira dos Andes, até Antofogasta, conhecendo inclusive a famosa escultura Mano del Desierto, no Deserto do Atacama.
A cada dia, eles percorriam cerca de 600 quilômetros, fazendo paradas nas cidades e localidades para conhecer os principais pontos, apreciar a paisagem, degustar a comida típica e conversar com moradores e demais turistas de todo o mundo. “Muitas vezes, passamos três ou quatro dias sem ver uma árvore e andávamos mais de 100 quilômetros sem ter nada de moradia, construção ou qualquer outra coisa, só pedra e deserto. Era muito estranho, mas ao mesmo tempo a paisagem era muito bonita, totalmente diferente do que vemos aqui”, destaca Marcos. Jair enfatiza: “o cenário lá é o que mais impressiona”. E Renato acrescenta: “Cada quilômetro é uma paisagem diferente e isso é o que mais encanta. Já viajei bastante, mas esta experiência com certeza foi a mais incrível. Em poucas horas, saímos de um trecho com neve, passamos por chuva e depois chegamos numa espécie de floresta com rio e muitas árvores. É impressionante”.
Nos 14 dias de viagem iniciados no dia 10 de março, foram poucos os imprevistos. Já na saída de Doutor Maurício Cardoso, Jair deixou cair a carteira com os documentos e dinheiro e Marcos deixou cair o celular. “A sorte é que o Renato estava atrasado e vinha logo atrás de nós e viu as nossas coisas no chão, ainda em Vila Pitanga!”, conta Marcos, enquanto todos riem ao lembrarem do episódio. Também teve o dia em que furou o pneu de uma das motos quando estavam distantes 90 quilômetros de qualquer cidade. “No meio do deserto, tiramos a câmara, e contamos com a ajuda de um caminhoneiro do Paraguai para encher com a mangueira de ar”, lembra Renato. Apesar de estarem preparados, eles contam que passaram muito fio no deserto, e, na Argentina, a polícia exigiu uma carta de revisão veicular, documento que não existe no Brasil. “Mas não era isso que ia estragar a viagem. Pagamos a multa e seguimos em frente”.
Para Marcos, o que mais marcou foram os três dias em São Pedro de Atacama. “A cidade é mística. Lá a gente parava para deixar as lhamas e burros selvagens passarem. Lá comi carne de lhama e tortilla de queijo de cabra. Lá 80% da população é turista e tudo, seja hotel ou restaurante, é de barro e chão batido. Enfim, foi uma viagem inesquecível”.
Jair comenta que fazer a viagem de moto proporciona liberdade. “De moto, você vive a viagem, tem um raio de visão mais amplo, tu faz parte da viagem”. Para ele, o melhor foi conhecer os geysers – fontes termais que lançam no ar jatos de água quente ou vapor – no deserto do Atacama. “Com um frio de 4° negativos, tomamos banho nos geysers com água que devia estar uns 40. Isso tudo antes do nascer do sol, que é o horário de ebulição. Foi um dos lugares mais bonitos”. O amigo Renato complementa que a sensação de liberdade e poder ver e desfrutar de tudo o que encontraram pelo caminho é fascinante. “Não tem como descrever. É tudo tão lindo e diferente, que só dá vontade de viajar cada vez mais”.
De acordo com o grupo, o próximo destino de aventura será o Peru. Vontade e espírito aventureiro não faltam.
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