Há dois anos, a região Sul do Brasil lamentava a morte do cantor e compositor Rui da Silva Leonhardt, o Rui Biriva. Nascido em Esquina Eldorado, Horizontina, ele foi vitima de um tumor no intestino grosso, falecendo em 25 de abril de 2011 aos 53 anos de idade.
Rui teve uma carreira bem sucedida iniciada com as interpretações em festivais nativistas. O apelido “Biriva” foi sugestão do cantor – e depois seu grande amigo – Luiz Carlos Borges, após vencer o festival Seara da Canção Gaúcha, em Carazinho, em 1982, com a canção Birivas, de Airton Pimentel. “Biriva” é uma designação para os tropeiros de gado. Com talento, simpatia e espontaneidade seja nos palcos ou fora deles, Rui Biriva tornou-se um dos grandes nomes da música gaúcha, com mais de dez álbuns lançados em quase 30 anos de carreira, fazendo sucesso com canções como Tchê Loco, Castelhana, Santa Helena da Serra, Quebrando tudo, Canção do Amigo. Biriva cantava sua cidade em todos os lugares, com composições como “Das Bandas de Horizontina” e “Canto a Horizontina”.
O Jornal Novo Horizonte presta uma homenagem a esta grande e inesquecível personalidade, com depoimentos de familiares como o sobrinho Sidnei Franck, amigos e músicos gaúchos como Luiz Carlos Borges, Darci Winter (Pibi) e Neto Fagundes.
Rui Biriva é padrinho de batismo de Sidnei Franck, que cresceu ouvindo suas músicas com muita admiração, e fez parte da banda do tio. “Quando eu comecei a tocar na banda do Rui, eu era fã dele, então era muita responsabilidade, mas muita satisfação em fazer parte de tudo aquilo que eu admirava. O Rui era uma pessoa forte, me dava conselhos, pegava no pé mesmo. Ele não queria que eu sofresse com algumas coisas que ele também sofreu, queria me proteger e me ajudar sempre. Ele foi minha escola e me abriu muitas portas, me apresentou para muitas pessoas, conheci e criei amizades com músicos que me ensinaram muito”, conta Sidnei.
Em 2009, Sidnei Franck gravou o primeiro CD de sua carreira, já com músicas da trajetória do Rui, como a “Quebrando tudo”, um grande sucesso composto em parceria entre sobrinho, tio e Celso Dorneles. Após a morte de Rui Biriva, o programa Galpão Crioulo, da RBS TV, prestou uma homenagem ao cantor. Participaram do programa os irmãos Sidnei, Leila e Adilson Franck e os amigos que também tocaram com Rui, Pibi e Luciano Camargo. Na oportunidade, Nico e Neto Fagundes “batizaram” Sidnei de Sidi Biriva, sugerindo o nome artístico ao músico. “Foi um presente, é uma honra para mim assim como foi para toda minha família quando o nome da Avenida Laguna, em Esquina Eldorado, onde ele se criou, passou a se chamar Avenida Rui Biriva. Não quero ser igual, nem tenho perfil para isso, mas vou continuar cantando as músicas dele”, explica. Outra homenagem a Rui foi a construção do Galpão Biriva, ao lado da casa de Sidi, em Horizontina, inaugurado em 28 de abril de 2012. O espaço abriga diversas recordações do músico nativista como fotografias e objetos.
Sidi Biriva lançará seu segundo CD no início de junho dando continuidade a sua carreira, sempre levando o legado de Rui, do qual muito se orgulha. “São dois anos sem Rui Biriva. É uma mistura de sentimentos, tristeza por não tê-lo por perto e lembranças boas da alegria que ele proporcionou e nos deixou em suas músicas, em sua história. Ele estará sempre conosco porque não vamos deixar sua música morrer”.
Darci Winter – Pibi – tocou com Rui desde criança quando iniciaram uma grande amizade. Pibi conta que também compôs com Biriva a música “Recado”, apresentada e gravada na Seara de Carazinho em 1983. “Éramos amigos acima de tudo. Rui não era músico de instrumentos, mas a sua voz era inconfundível e se destacava sempre. Ele gostava de cantar em festivais e não sossegou enquanto não fez sucesso. Ele tinha uma gana, queria explodir no meio musical. E quando a carreira dele começou a deslanchar, eu fiquei em Horizontina, pois já tinha meu emprego de professor. O Rui era uma figura incrível que nós nunca vamos esquecer”, afirma Pibi.
Luiz Carlos Borges
“Fui eu que motivei e induzi o Rui da Silva Leonhardt a adotar o pseudônimo de Rui Biriva”. Ficamos amigos em julho de 1983 e desde então ele costumava se reportar muito a mim nos mais variados e diversos assuntos, fossem de arte, fosse de vida.
Além de dotado de uma voz maravilhosa, ele aprendia com invejável facilidade as mais complexas melodias; sustentava num vocal, com afinação impecável, a voz que lhe fosse dada. Cantava agudo, forte e afinado. A melhor versão, das muitas gravadas, da minha parceria em Baile de Fronteira, com o Mauro Ferreira, sem sombra de dúvidas é a que fizemos com o Rui a duo. Isto que estou dizendo é o que a saudade vem me apontando enquanto escrevo, porque o Rui segue sendo uma figura inesquecível por seu lado humano, amigo e por sua enorme alegria. Ele cantou canções alegres, ele animou os mais acanhados, ele divertiu crianças, jovens e adultos.
Não pensem que era fácil de lidar com ele. Quando se calçava, arrepiava o pelo, pronunciava a palavra: ‘BRINCADEIRA!’ Deus me livre, bota alemão teimoso!!
Às vezes chegava, assim de sopetão e me dizia:
– Borges, preciso uma música de tal e tal jeito pra gravar.
– Prá quando?
– Até o fim da semana!
Aí eu me provalecia. Mandava ele produzir uma ‘bóia’ lá no sítio da Galoa e acampava um dia ou dois até termos a música pronta. Talvez a que mais tenha me marcado foi a canção VOU PROSSEGUIR. Quando terminei a letra e a melodia, nos abraçamos e choramos muito!
Dois anos sem a presença humana do RUI BIRIVA pode ser muito, mas o tempo seguirá passando e será maior. Porém, para quem eternizou seu canto nos corações e na memória de todo o povo de uma enorme região (o Sul), o tempo não existe. Ele estará sempre presente, gerando alegria e fazendo amigos.
Neto Fagundes
No meu primeiro encontro com o Rui – na época Leonhardt – o que me chamou a atenção, além do narigão dele, um chapéu de aba larga, foi uma voz incrível de quem nasceu cantor, dono de um timbre agudo, limpo e afinado e o mais incrível, o sertanejo que toca hoje em todas as emissoras do país. Era um sonho do Rui, que via nessa vertente uma música regional capaz de viajar o país. Lá se vão dois anos em que ficamos menos alegres, foi embora um pouco do sorriso, da nossa música… Tchê Lôco, Santa Helena e Castelhana sempre nos levarão pra perto dele.
Participei do DVD do Rui Biriva e ele gravou uma música minha “TÔ NO VANEIRÃO” e bem do jeitão dele. Quando fui gravar senti a força dele como show e botamos todo mundo pra dançar acompanhados de uma banda de luxo. No Galpão Crioulo ele era figura carimbada! Competência, alegria e alto astral são marcas desse gaúcho de Horizontina que tinha na alegria a sua marca. Penso que o nosso papel de amigos é lembrarmos dele com alegria e quando cantarmos as suas canções, que elas possam nos aproximar desse amigo que deixou saudades.
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