O inquérito da Polícia Civil sobre a morte da mãe do menino Bernardo Boldrini, assassinado aos 11 anos em abril do ano passado no Rio Grande do Sul, foi prorrogado por 30 dias na semana passada. O delegado Marcelo Mendes Lech, responsável pelo caso, disse ter solicitado a extensão do prazo à Justiça porque a investigação exige mais tempo para a realização de perícias e a tomada de novos depoimentos. “Ainda há muitas diligências a serem feitas e, em razão disso, foi solicitado ao Judiciário a prorrogação da investigação, e o pedido foi deferido no final da semana passada”, disse o delegado. Lech ainda não sabe se será necessário um segundo pedido de prorrogação do inquérito. “Temos praticamente todo o mês de julho para investigar”, afirmou. Odilaine Uglione morreu em fevereiro de 2010, aos 30 anos. Ela foi encontrada morta dentro da clínica do então marido, o médico Leandro Boldrini, acusado de matar o filho, em Três Passos, no Noroeste do estado, com um tiro de arma de fogo. Além do suposto suicídio, ela teria deixado uma carta de despedida. Uma das perícias solicitadas por Lech tem como objetivo apontar se a carta foi realmente redigida pela mãe da criança. “Em razão desta solicitação, o IGP solicitou uma documentação complementar, que já foi encaminhada, mas ainda não temos resposta sobre a análise da carta em si”, afirmou.
O inquérito foi reaberto no dia 21 de maio. Na época da morte, a Polícia Civil concluiu que Odilaine se matou, com base no depoimento de testemunhas e nos laudos da perícia oficial. Entretanto, perícias particulares feitas a pedido da família no último ano levantaram a suspeita de que ela possa ter sido assassinada. “Estou em busca da verdade. Busco elucidar o que efetivamente aconteceu naquela situação”, disse o delegado. Desde abril do ano passado, a avó de Bernardo e mãe de Odilaine, Jussara Uglione, de 74 anos, tentava a reabertura do caso, para provar sua tese de que o suicídio da filha teria sido forjado. Ela acredita que o ex-genro teria cometido o homicídio. A delegada Caroline Virgínia Bamberg foi a responsável pela investigação do caso sobre a morte de Odilaine há cinco anos. Ela também foi encarregada de apurar a morte do menino Bernardo, em abril do ano passado, e indiciou os quatro réus que estão presos pelo crime. O pai de Bernardo é réu pela morte do filho. Também são acusados a madrasta do garoto, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz. Os quatro respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver, entre outros crimes.
Nova versão
O MP pediu a reabertura do inquérito à Justiça e justificou que os laudos particulares, confeccionados a pedido de Jussara Uglione, mãe da vítima, trazem novos fatos, imputando à secretária do consultório a confecção de uma carta suicida e colocando, inclusive, uma terceira pessoa dentro da sala de atendimento em que ocorreu o fato, onde, em tese, estariam apenas Leandro Boldrini e Odilaine Uglione. Com o pedido de reabertura do inquérito, o MP encaminhou requisição de diversas diligências à polícia, em especial realização de perícia grafodocumentoscópica (quando se examina a grafia de um documento para avaliar autenticidade ou falsidade) na carta suicida, reprodução simulada dos fatos, depoimento de pessoas que estavam no consultório na data e horário do fato e que compareceram ao local depois e complementação de perícia já realizada, entre outras diligências.
Perito diz que letras são diferentes
A suposta carta suicida teria sido escrita em 9 de fevereiro de 2010. Conforme o advogado Marlon Taborda, que representa a mãe de Odilaine, perícia particulares contratadas por ele analisaram e compararam a grafia do texto. Segundo peritos, a suposta carta suicida da enfermeira teria sido forjada, escrita por outra pessoa, como mostrou a reportagem do Fantástico. Ricardo Caires dos Santos, perito judicial em São Paulo há oito anos, fez um “exame grafotécnico” e comparou a letra e a assinatura com papéis que são comprovadamente escritos pela mãe de Bernardo. “Não foi a dona Odilaine que escreveu. São dois punhos totalmente diferentes. Pessoas diferentes que assinaram”, afirmou o perito. A assinatura que aparece na carta de suicídio também é diferente de assinaturas autênticas de Odilaine registradas em um contrato de locação, no diploma de auxiliar de enfermagem dela e em outro contrato de prestação de serviços.
Fonte: G1
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