“Às vezes vou me lembrando
dos bailes da Mariquinha
do xote velho e largado e da rancheira que vinha”
Buscando resgatar e reviver os fandangos gaúchos de antigamente, a Invernada Xiru Oiga Tchê e o CTG Carreteiros de Horizonte, de Horizontina, promovem para o dia 20 de maio, o Baile à Moda Antiga.
Olmiro Ribeiro Junior e Paulino Rodrigues, que estão na organização do evento, contam que os bailes à moda antiga são um movimento no Rio Grande do Sul, iniciado com grupos de cidades como Vacaria e Caxias do Sul ligados à pesquisa folclórica, que há 26 anos buscam contextualizar como eram os fandangos, as indumentárias, as danças e os costumes das comunidades de mais ou menos 50 anos atrás, com o intuito de reviver esta época. “A maioria das pesquisas são baseadas nos livros de Paixão Côrtes, que é folclorista e pioneiro no resgate das tradições do Rio Grande do Sul e nós, para nosso evento, também pesquisamos aqui na região sobre as comidas e ornamentação da época, por exemplo”, diz Paulino.
“Do café de chaleira
que a cumadre me servia
farofa e feijão mexido
com uma quarta de farinha”
Os bailes daquela época, dos jovens das décadas de 60 e 70, eram iluminados com candeeiros ou velas, tinham música com amplificação baixa ou acústica, tinham café da meia noite e tudo isso vai ter também no baile em Horizontina. “Também teremos uma ilha de cachaça para degustação, espaço especialmente decorado para fotos, espaço para chimarrão com erva-mate e água quente disponíveis e, ainda, um tacho para armazenar cerveja, como era naquela época, para demonstração”, conta Paulino. No Café, as comidas serão típicas da região: cuca, salame, torresmo, entre outros.
“Muito casamento deu
no baile da mariquinha”
Antigamente, os bailes eram um dos poucos pontos de encontro e diversão dos jovens e das famílias. “Ali iniciavam muitos namoros, sempre com princípio de respeito e com galanteios para a conquista. O homem, por exemplo, chamava a atenção pela destreza na dança e pela vestimenta”, diz Olmiro. Já Paulino relembra: “As moças não podia dar ‘carão’, tinham que dançar uma ‘marca’ caso fossem convidadas. Era feio negar uma dança e se a moça assim fizesse, o cara podia até xingar a prenda! Além disso, havia um quarto no salão onde as meninas novas ficavam e olhavam o baile pela janela, espiando os rapazes através da cortina. Nos bailes de CTG, por exemplo, dependendo do tipo de nó no lenço do cavalheiro, era possível identificar se ele era comprometido ou não”. Ele também destaca o famoso quartinho das crianças, onde os pais deixavam os filhos dormindo e iam tranquilamente para a pista de dança se divertir.
“Chegava os fins de semana
sábado de manhãzinha
dava dava dava dava aquele reboliço”
Paulino conta que os bailes iniciavam às 7 da noite e seguiam até o outro dia de manhã ou, “até quando os músicos aguentavam. “Era um evento importante, as pessoas se arrumavam desde cedo para ir ao baile”.
“E os convidados do baile
que baile tchê
do baile da mariquinha
uns à pé e de à cavalo
outros de carreta vinha”
“Muitas iam aos bailes a pé ou à cavalo, às vezes até de caminhão com a família toda e até a vizinhança e isso era muito natural”, menciona Paulino.
Olmiro destaca que durante o baile serão realizados concursos de melhor caracterização, grito do sapucay, melhor par dançante, entre outros e os prêmios também serão como eram antigamente, o que para muitos, poderá ser surpresa. Além disso, haverá integração de danças tradicionais gaúchas e danças de fandango – algumas delas com as invernadas artísticas, e todas, com animação do Grupo Parceria. “Este será o primeiro baile à moda antiga da 20ª Região Tradicionalista e a ideia com tudo isso é fazer um resgate cultural e musical com o que temos de melhor no nosso estado. Será um baile temático e didático, para a diversão, lazer e aprendizado histórico e cultural.” Ele enfatiza que há músicas que também relembram os bailes de antigamente, como O Baile da Mariquinha e Bailanta do Tibúrcio, do grupo Os Serranos.
“E a segurança do baile
era de primeira linha
tinha tinha tinha tinha o Zapa no comando
e lá na copa o Bijuquinha
e se estourasse a peleia
o tio Zapa atendia tirava a indiada lá prá fora
e no tapa resolvia”
Paulino explica que antigamente muitas pessoas chegavam ao baile com revólver ou faca, mas, para a segurança no trajeto de ida e volta. “Hoje em qualquer lugar não se permite arma, nem no nosso baile, mas naquela época era comum o cara entrar no salão e deixar a arma na secretaria para ser guardada e só pegar na saída. Não precisava de segurança”.
“A alegria continuava
no baile da mariquinha”
Quem quer participar do baile:
– Ingressos à venda com a Invernada Xiru ao valor de R$ 30,00 por pessoa. Há mesas de 4 e 8 lugares e também mesas coletivas.
– A vestimenta deve ser roupa social da época ou atual; pilchas autênticas de hoje ou roupas gauchescas que lembrem a época
“A melhor coisa do mundo era
o baile da mariquinha”
Matéria veiculada na verão impressa do NH dia 21 de abril de 2017