Fernando Aguzzoli, 23 anos, lança em Porto Alegre a 2ª edição do seu livro.
Nova edição da obra “Quem, eu?” chega às livrarias brasileiras neste mês.
Há um ano, a história de um jovem estudante universitário que largou a faculdade, o emprego e as festas que frequentava com os amigos para cuidar da avó que sofria de Alzheimer ficou conhecida no país inteiro. Os últimos meses de Nilva de Lourdes Aguzzoli, conhecida como Vovó Nilva, sob os afetuosos cuidados do neto viraram páginas de um livro que vendeu 30 mil exemplares e inspirou muita gente. Agora, a obra “Quem, eu? – Uma avó. Um neto. Uma lição de vida”, de autoria do porto-alegrense Fernando Aguzzoli, 23 anos, ganhou nova versão. Reeditado, o volume foi lançado em Porto Alegre na segunda-feira (20) com algumas novidades.
Os números impressionam para o mercado editorial brasileiro. Com tamanha procura, foi necessário imprimir mais exemplares para recolocá-los nas prateleiras e atender a demanda de leitores. A edição, que chega às livrarias brasileiras neste mês, ganhou nova diagramação e trechos inéditos.
“São 17 novos diálogos e algumas inserções pessoais que coloquei como fruto das minhas palestras sobre o assunto”, explica o autor da obra, que admite que se engajou ainda mais na causa e no tema do Alzheimer, temido por muitas famílias. “As pessoas têm medo de uma doença que nem a ciência conhece direito”, constata Fernando.
Mas bem mais do que exemplares vendidos, o jovem autor passou a colecionar novas experiências de vida. Da capital gaúcha, ele percorreu dezenas de cidades brasileiras, por onde dividiu seus relatos, entre aprendizados e também dificuldades para lidar com a avó doente. Foram palestras em universidades, escolas, eventos literários, grupos de apoio a familiares, congressos e simpósios de saúde e até mesmo em presídios, no Brasil e fora dele.
“Jamais imaginava essa repercussão. As palestras têm sido em lugares tão diversificados. Estive em um presídio no interior do Espírito Santo e falei para médicos em um congresso no México. Percebo cada vez mais a enorme quantidade de pessoas que querem compartilhar suas histórias. São histórias maravilhosas”, completa ele.
Diagnosticada com mal de Alzheimer em 2008, a matriarca da família Aguzzoli, descendente de italianos e natural de Caxias do Sul, na Serra gaúcha, passou a sofrer lapsos de memória e comprometimento de funções motoras. O caso se agravou a ponto de ela não conseguir mais realizar sozinha tarefas comuns do dia a dia e de não reconhecer amigos e familiares. Às vezes, nem a si mesma.
Em 2011, decidido a se dedicar em tempo quase integral aos cuidados com a avó, Fernando trancou a faculdade de filosofia que cursava na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e largou o projeto de abrir uma empresa. Para enfrentar os dias que viriam e dividir a experiência ao lado da avó enferma, ele levou o assunto às redes sociais. Com bom humor, criou a página Vovó Nilva, no Facebook, um espaço que serviu para compartilhar as experiências de se conviver com alguém com Alzheimer. Os posts deram origem ao livro.
“As pessoas ainda me mandam mensagens agradecendo por isso e penso que a única coisa que eu fiz foi compartilhar minha história. Teve uma vez em uma palestra que uma senhora bem velhinha levantou a mão e pediu para falar. Disse que tinha perdido a vontade de viver por causa do Alzheimer. Depois que ela ganhou o livro de presente, disse que ganhou novamente a vontade de viver. Ela agradeceu a mim e a minha avó por isso. Essas histórias para mim não tem preço”, lista Fernando, entre suas memórias.
Dona Nilva se foi em dezembro de 2013, quando não resistiu a uma infecção urinária, pouco antes de completar 80 anos de idade. Porém, seguir abordando o assunto e mostrando às pessoas como é possível levar a vida de forma mais leve, ainda que diante de uma grave doença como o Alzheimer, é uma recompensa para Fernando.
“O sonho da minha avó sempre foi viajar pelo mundo, mas ela nunca pode. Eu, através do livro, consigo viajar com ela. É uma forma de levar a minha avó para onde ela queria estar”, conta ele, que carrega consigo um exemplar que ele dedicou à Vovó Nilva. Ele costuma fotografar o livro em pontos turísticos dos lugares que visita. O ato é uma analogia ao anão de jardim que aparece no filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”. O hábito foi adotado também pelos leitores, que compartilham as imagens nas redes sociais com a hashtag #quemeupelomundo. “Minha avó tem conhecido vários lugares”, diverte-se.
Fonte: G1
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