Quarta-feira 14/05

Para eles, há mais de 60 anos, o que mais importa é o amor

27 de junho de 2017

Um encontro que deu certo. Assim define o casal Lucy e Manfredo Unterberger sobre seu amor que surgiu na estação de trem há mais de 60 anos. A história é recheada de bons sentimentos, respeito, fé, emoções e muito, mas muito amor. E por isso o NH trouxe aos leitores esta história, em alusão ao Dia dos Namorados, na versão impressa do dia 16 de junho e, agora, nesta página. Aos que acreditam no amor, um reforço. Aos que não acreditam, uma prova de como ele faz bem e pode ser muito verdadeiro!

Em maio, D. Lucy e S. Manfredo comemoraram suas Bodas de Diamante – 60 anos de casados. A felicidade e o amor recíproco sainda são verdadeiros e tão intensos como desde aquele dia de 1953, quando se viram pela primeira vez na estação de trem. Manfredo estava retornando de Cachoeira do Sul, onde moravam seus pais, para a cidade de Três Corações, em Minas Gerais, onde fazia um curso para sargento. O trem onde ele estava fez uma parada em Santa Maria, onde Lucy estava com sua família, acompanhando o primo que também seguiria para Minas. “Quando o trem saiu, eu olhei e dei de cara com ele, abanei e pensei: Que alemãozinho bonitinho…”, conta Lucy, com um sorriso no rosto.

Durante os cinco dias de viagem, Manfredo precisava descobrir quem era a moça que lhe chamou atenção. Puxou conversa com o primo, que viu entrar no trem, e que estava olhando as fotos de família e descobriu o endereço da jovem. Depois de um tempo, mandou uma carta dizendo: “Daquele que tu trocaste um inesquecível olhar no dia 27 de julho na estação em Santa Maria”. E ela respondeu, junto com um cartão que tinha a imagem de uma paisagem com uma cabana: “Teu amor, uma cabana e nada mais”. “Aí o cupido derrubou. Deu uma flechada certa e acabou comigo”, lembra ele, muito emocionado e provavelmente com a mesma ternura e amor do dia em que leu o bilhete.

Após mais de meio ano trocando cartas e poemas que falavam de amor, se encontraram novamente na estação no feriado de Páscoa do ano seguinte. “Ele veio sorrindo pro meu lado com uma caixa de presente com um coelhinho”, lembra, com muita doçura, Lucy. Em seguida, Manfredo conversou com os pais dela e ficaram noivos. E a distância aumentou quando ele foi transferido para o Rio de Janeiro naquele mesmo ano. Mas para quem pensa que isso foi um problema, Manfredo apresenta a solução: “Comprei as alianças e já comecei a usar a minha, mesmo sem falar com ela, pra espantar as outras moças. Candidatas não faltavam mas eu tinha convicção do meu sentimento. É o tal do cupido”. Ele lembra até hoje onde comprou as alianças. “Foi na relojoaria Nascimento. Eu pedi ouro bom, pois era tudo muito especial”.

Lucy conta que mesmo só com as cartas, sem se verem com frequência, sabia que ele era o amor de sua vida.  “O amor era muito grande e havia a certeza de que ia dar certo. Tanto eu quanto ele poderíamos ter tido outras pessoas especiais, pois ficamos muito tempo longe, só nos comunicando por cartas. Mas não era isso que a gente queria. Se o amor não fosse tão grande, poderíamos ter ficado com outros, e por isso também não tínhamos ciúmes, tínhamos confiança nos nossos sentimentos. Não podíamos estar todo o tempo juntos e isso foi bom para nosso amor, porque aproveitamos o tempo e um ao outro quando podíamos”.

Casaram em Santa Maria e, na mesma noite, foram com toda a família dele, de trem novamente, para morar em Cachoeira. “Era um trem de luxo”, lembra ele. Quase um ano depois, nascia a primeira filha, Maria Lucy. Depois vieram Manfredo Henrique, Maria de Fátima e Marco Antônio. Eles viveram um tempo em Rondônia, depois novamente em Cachoeira, até se mudarem em 1978 para Horizontina, onde estão até hoje. Mafredo era 1º tenente do Exército e passou a atuar na Delegacia do Serviço Militar da cidade. A família, com sua simpatia e simplicidade, logo fez amizades e se inseriram na comunidade. O casal foi cursilista ministrando catequese e curso de noivos. Ele, além do exército, dava aulas de língua portuguesa no então, colégio Comercial (CFJL), e ela, foi bibliotecária na biblioteca pública municipal e depois , professora de História e Geografia, na Escola Farroupilha.

Ela guarda todas as cartas até hoje. “De vez em quando eu pego para dar uma olhada”. Já Manfredo guardava as cartas dentro de um diário, mas quando os filhos acharam e abriram, resolveu queimar “para não revelar os segredos”. Uma das cartas que Lucy escreveu para o então namorado dizia: “Assim como Deus deu o ar livre para o pássaro voar, também deu meu coração livre para te amar. “Aí o foi o tiro de misericórdia”, lembra Manfredo, dizendo, com lágrimas no olhar e coração aberto, que este é um dos trechos que lembra com mais carinho e intensidade. Para ela, ele escreveu uma frase, que depois um colega de serviço escreveu a mão para um quadro, que guardam até hoje (foto): “Um para outro e ambos para Deus”.

E assim eles vivem até hoje renovando os sentimentos e a fé. Vivem bem, felizes, sem nunca terem brigado, o que é orgulho para toda família. O segredo? “A fé. Ela é a base dos relacionamentos”, revela Manfredo. Lucy complementa: “Nunca dormimos separados. E antes de dormir, rezamos juntos e agradecemos pelo dia”.

Fazer o melhor na vida para viver bem é quase que um lema do casal, que com esta história podem inspirar muitas outras, seja para quem está começando o namoro, seja para aqueles que estão trilhando seus caminhos juntos, pois o que move, o que fica e o que vale a pena, é amor.

 

 

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